Dia 16 de outubro ocorreu no pátio do Colégio Estadual “Nilo Peçanha” a estréia do documentário “Nos olhos de quem vê”, produzido pelos alunos do colégio em parceria com o projeto Roda Memória.
Embora muitos não vieram por causa da chuva forte que caiu no dia, aproximadamente 40 pessoas acompanharam a estréia que ocorreu no pátio do Colégio.
O jornal FOLHA DE LONDRINA cobriu o evento. Abaixo vai a reportagem que saiu no jornal na presente data.
20/10/2009
Porque sua vida dava um filme
Documentário feito por estudantes mostra que grande parte da riqueza da Vila Nova está na história de seus moradores
‘Nos olhos de quem vê’ resgata os primórdios da cidade e do bairro através de relatos dos moradores
Eles vieram para Londrina em busca de uma vida melhor, e impressionados com as histórias que se contavam sobre a fertilidade da terra vermelha. Passaram por dificuldades semelhantes: falta de energia elétrica, de água encanada e esgoto, a lama, os poucos recursos. Trabalharam muito. Mas também foram aos bailes, quermesses, tiveram filhos e viram a cidade prosperar.
Resumir a vida de cada pioneiro de Londrina a esse pequeno parágrafo, porém, é diminuir demais a existência e a importância de cada um. E o documentário ‘‘Nos olhos de quem vê’’ deixa isso muito claro. Em 30 minutos, o filme intercala relatos de oito moradores da Vila Nova, o primeiro bairro da cidade, para mostrar quanta vida se concentra nos detalhes que diferenciam uma história da outra. O curta-metragem resgata os primórdios da cidade e do próprio bairro através das experiências pessoais de cada entrevistado, e acaba remexendo também na memória do próprio espectador, já que é impossível não se identificar com algumas cenas.
Só por isso ‘‘Nos olhos de quem vê’’ já seria um documento relevante. Mas ele é maior ainda: o filme foi feito por alunos do colégio estadual Nilo Peçanha, dentro do projeto Roda Memória. Cinco jovens com idades entre 13 e 17 anos participaram de dois meses de oficina com pesquisa, entrevista, captação das imagens e pré-edição das mais de 15 horas de material.
Apresentado na semana passada para cerca de 30 pessoas, entre alunos, pioneiros e familiares, o filme arrancou risos e aplausos com os relatos de Ângela Garcia, Antônio Gouveia, Elder Senne, Eunice Gongora, Francisco Garcia, Ilda Brandalize, Juvenil Marcon e Nadir Noé – gente simples, mas com várias lições para dar.
‘‘Foi gostoso relembrar e contar. Apesar das dificuldades, tive uma infância e juventude muito boas, não posso me queixar. Naquela época não tinha tanto perigo, vivíamos com mais liberdade’’, comparou Ilda Brandalize, 78 anos, moradora do bairro desde 1939. ‘‘Se as pessoas não conhecem o passado, não sabem por que existe o presente’’, refletiu.
‘Se as pessoas não conhecem o passado, não sabem por que existe o presente’, reflete Ilda Brandalize
Outra estrela da noite, o casal Ângela e Francisco Garcia, 85 anos, viu sua família comparecer em peso para assistir à exibição. ‘‘Não esperava isso, não. Conversamos até demais, não foi?’’, comentou seu Francisco, visivelmente emocionado, para em seguida convidar a repórter para passar em sua casa qualquer dia para outra prosa.
Cada entrevistado ganhou uma cópia do documentário, junto com a certeza de que sim, sua história merece ser eternizada junto ao mosaico que compõe a história do bairro. E quem esteve presente sentiu que a sua própria história também era importante.
‘‘Antigamente, para fazer um telefonema para fora da cidade tinha que ir a uma cabine, pedir a ligação à telefonista e aguardar horas. Às vezes nem conseguia. Hoje, as pessoas têm um modo de viver com internet, celular, e acham que toda vida foi assim. A gente tem que contar as histórias para que os jovens saibam como a vida era difícil e valorizem o que têm hoje’’, definiu Carlos Garcia, 58 anos, filho de Francisco e também cheio de histórias para contar: ele foi o primeiro policial a fazer um parto dentro de uma viatura em Londrina, e, bem, o resto fica para uma outra matéria – ou filme, quem sabe?
Adriana Ito
Reportagem Local
20/10/2009
Construindo novas histórias ‘‘Ajuda a construir um pouco da história’’, definiu a estudante Ana Clara Santos, 16 anos, orgulhosa com o resultado de dois meses de trabalho, sem se dar conta que a própria história também estava sendo construída ali, assim como a de seus colegas Vinicius Pereira, Sandra Cristina, Emillie Gogola e Gabriel Heckler, 16 anos.
Carlos Garcia foi o primeiro policial a fazer um parto dentro de uma viatura em Londrina
Sonhando em se tornar engenheiro civil e sem nunca ter morado na Vila Nova, Gabriel foi um dos alunos mais ativos no projeto. ‘‘Nunca tinha pensado em fazer um filme. Mas quis saber mais sobre a história do bairro, ter uma visão diferente, pelo ponto de vista dos moradores. Acabamos conhecendo também as histórias de vida, e cada uma passou uma lição diferente’’, comentou o estudante.
Segundo a diretora da escola, Albina Kawano, a melhora na auto-estima dos participantes foi evidente. ‘‘Eles ficaram mais envolvidos na realidade da escola, conhecendo melhor o bairro e aprendendo a socializar com outras pessoas. Cresceram muito com isso’’, observou. ‘‘Os alunos descobriram o próprio passado, do local onde moram, e ficaram com mais orgulho de viver no bairro’’, complementou o jonalista Rogério Cavalcante, que ministrou as oficinas junto com as colegas Juliana Franco e Marina Casagrande.
Gabriel: ‘Acabamos conhecendo também as histórias da vida e cada uma passou uma lição diferente’
O projeto surgiu no ano passado, com um documentário sobre a Vila Brasil feito pelos próprios jornalistas. ‘‘Este ano resolvemos capacitar alunos para eles fazerem as histórias deles. E junto descobrir quem são os pioneiros do bairro e valorizá-los, tentar sair da história oficial’’, explicou Rogério, acrescentando que o Roda Memória envolve outros dois bairros: Jardim Santa Fé e União da Vitória. ‘‘Além disso, cópias dos documentários serão distribuídas à Secretaria de Cultura, museus, escolas e no circuito de cineclubes do sul do País’’, acrescentou Juliana. O projeto tem patrocínio do Promic. (A.I.)
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id_folha=2-1--14048-20091020
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id_folha=2-1--14052-20091020
EQUIPE DA BIBLIOTECA "MONTEIRO LOBATO"
Colégio Estadual "NILO PEÇANHA" - E.F.M.
Texto por: GABRIEL HECKLER PIEDADE